sexta-feira, 4 de março de 2016

Ah, a vida adulta...


Aos seis, talvez seu maior medo fosse o de crescer. Ou de ver seus pais separados. De ser abandonado. Da sua mãe envelhecer em algumas semanas. De não ser mais a atenção de todas essas pessoas que onde você chega, te recebe com sorrisos e abraços.

Quando a gente tem 10 anos, um dos nossos desejos é ter 14. Pra poder falar com certeza, que somos adolescentes. Queremos deixar de toda forma o fardo da palavra criança. Poder sentar na roda dos mais descolados do colégio e não ser olhado com desdém pelas garotas. 

Então os demorados 14 anos chega. Você enche a boca pra falar que é adolescente e começa à agir como um. 

Mas isso logo cansa. Seja nos 15 ou 16, o seu foco é os 18. Se homem: cnh, mulheres, boates, álcool... Se mulher: poder ser vista, tratada, desejada e respeitada como tal.
É uma fase intensa onde os planos brotam. Vou poder viajar, me livrar dos pais, poder curtir meus amigos numa cena que lembra mais ou menos aqueles filmes californianos dos anos 90.

Os 18 chega e sim, muita coisa que você imaginou, pôde realizar. Algumas experiências não foram tão boas quanto na idealização, enquanto outras até superou suas expectativas.

                        20, 21, 24... tic-tac, tic-tac.
 


Não sei se é coisa da idade. Mas quando você passa à mirar seus 25 logo à frente, passa a ter mais cautela sobre o que pensar sobre o que vem à frente e a sua forma de enxergar o que passou.

Não é mais tão nostálgico quanto no início dos 20. Percebe que a infância teve seu valor, mas que é tortuoso querer tanto reviver algo que está tão lá atrás. O futuro, antes tão buscado ansiosamente, passa à ser tratado com mais realidade. Afinal, no futuro - tudo o que aqui está, pode não mais estar. Seja pelo distanciamento, inexistência natural, desafeto...  Seu pet, seu amor, seus pais, algum amigo. Todos reféns do tempo.

Sendo assim, seus pés, mente e coração se mantém mais confortável no presente. Não que esse seja confortável literalmente. Mas a aceitação dá lugar onde havia ansiedade e/ou saudade.

Ah, a vida adulta...

aquele jogo onde você podia ser mágico, espadachim, atirador, ogro ou gangster, Agora te dá duas opções: guerreiro ou vítima.

Seja o guerreiro do dia-dia: dos horários nem sempre condizentes com seu relógio natural que se balança numa corda bamba pra manter o salário, humor, estado de espírito e vitalidade em ordem.
Ou seja do Ser permanente: nesse eterno nascimento e morte dos vários 'Eus'. 

Seja a vítima das injustiças cotidianas causadas pela má distribuição, exploração, desordem, descuidado, desafeto, desamor.
Ou seja a vítima de si mesmo: Do orgulho, do ego, do medo, da ansiedade, da falta de coragem e esperança. 

Dois personagens. Uma escolha. Nada além disso.

A compreensão do seu verdadeiro papel lhe trás à consciência do que realmente é relevante. Apesar disso lhe mostrar um norte na vida - ou mesmo numa discussão., acarreta também num sentimento real de medo de perder isso que sua consciência lhe mostrou tanto valor ter. Seus amigos, seus pais, sua saúde, sua existência...

Mas se nesse misto de desejo e medo estiver também a aceitação, o movimento da vida será mais ou menos como aquele desenho de reciclagem. Uma eterna roda.

E como já bem disse Almir Sater, "Penso que cumprir a vida seja simplesmente compreender a marcha e ir tocando em frente". 

Isso não é de certa forma, libertador e assustador ao mesmo tempo?

Ah, a vida adulta...

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